06/08/2007

A Viagem da Vida

A Viagem da Vida
Se não puder guiar o veiculo, que seja o passageiro ou acompanhante mais divertido. Num lugar próximo à janela, desfrute de cada paisagem que o momento lhe puder oferecer, com o mesmo prazer de quem realiza a primeira.
Não se assuste com os abismos, nem com as curvas que não lhe deixam ver os caminhos que estão por vir. Não tema as ultrapassagens, muitas vezes perigosas e sem sentido - tua, do teu veículo ou um outro veiculo qualquer.
Procure desfrutar a viagem desta vida observando
cada arvore, cada relva, cada vento, cada grão de areia que bate na face, cada riacho, beirais de estrada e tons mutantes da paisagem.
Jogue fora o mapa e planeje sem roteiros. Preste atenção em cada ponto de paragem. E quando decidir descer do veiculo no ponto onde a felicidade te acenou, não hesite. Desça em encontro aos teus sonhos.
Que a viagem pela vida seja satisfatória: em equilibrio, em sabedoria, em aprendizado e sobretudo em amor!

A seguir alguns poemas de Felipe Fortuna, aprecie a obra deste poeta, ensaista e diplomata, nascido no Rio de Janeiro. Professor-visitante do King’s College, Londres, cidade em que vive atualmente.


Lendo o mapa
A viagem confirma: outros estiveram aqui
e você veio vê-los, em confiança,
e agora se move nas curvas
e no relevo suave. Você pratica
primeiramente os nomes, antes de chegar aos lugares.
Depois, diante da cidade, começa a pensar nos romanos
com sutileza acintosa: afinal, quem mandou matar
e erguer o Império, e profanar todos os dias?
Procura um aqueduto ou a estátua,
e tudo estará ali, reunido, no ponto
colorido sob os dedos. Mas a vontade
de viajar dardeja ainda mais,
e um traçado contínuo vai afastando
o tempo e o espaço. Uma lagoa à direita
ficará para depois, irremediável
e incrustada no papel como um amuleto.
Você alcança outras zonas com estratégia,
e vai construindo a sua chegada
como o peão que avança, o cavalo
na casa do bispo. Há muito tempo
você vigiava esse contorno em azul metileno
e à tarde está dentro dele:
um animal solto no vilarejo? mas nem apontam
quando você passa, e você acolhe no mapa
um outro destino, sabendo que a página seguinte
revela o mar, sem qualquer ilha ou contemplação.

Viajar

Viajar todas as vezes
que o corpo precisar
(fabricar a viagem de alguma substância
da glândula).
As lágrimas são uma necessidade,
assim como o suor:
que a viagem também
transforme seu rosto,
regule a temperatura do corpo.

Depois, ir.

Ir suspenso, guiado por tudo
que produzir
os verbos “fazer chegar”.
Muitas curvas, montanhas,
encontrar com surpresa “córrego,
atalho”, tudo levando à mesma viagem
que já deixa memória,
mas está por começar?

Viagem por onde só a família foi,
viagem que tem animais, portas,
nomes de lugares.
E a persistência
enfática:
continuar. Febre, sede.

Depois, voltar?
Induzir a turva reação
de cores prolongadas, e partir
para outro caminho,
à solta.
A viagem repete o viajante,
e ele não nota.

Um comentário:

ninguém disse...

Oi, Rita. Seus posts, em especial sobre a viagem da vida, me fizeram tão bem. Conheço Vitória, fiquei na I:lha do Boi, e alguma coisa em volta, lembro de uma praia mínima em que a gente comia peixe frito quase dentro do mar onde os barcos ficavam a algumass braçadaS. Um dia volto. Estou lonksndo seu blog e aguardo seus comentários.
abraços